Pela manhã do dia 3 de maio,
cerca de 2 mil trabalhadores aplaudiram de pé um grupo de indígenas que foi aos
alojamentos dialogar com os operários
04/05/2013
Ruy Sposati de Altamira (PA)
Cerca de 100 homens da Força
Nacional, tropa de choque da Polícia Militar e Polícia Civil chegaram ao
principal canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Belo Monte, no Pará, no
último dia 3 para cumprir mandado judicial. A Justiça Estadual deferiu pedido
de reintegração de posse contra "brancos" que estavam presentes na
ocupação, iniciada no dia 2. Dois jornalistas que cobriam a ação e um
pesquisador foram levados do local pela Polícia Civil. Os indígenas, por sua
vez, lançaram nova carta reafirmando a pauta reivindicatória – leia abaixo na
íntegra.
Pela manhã do dia 3 cerca de
2 mil trabalhadores aplaudiram de pé um grupo de indígenas que foi aos
alojamentos dialogar com os operários. "Os trabalhadores que vivem nos
alojamentos nos apóiam", afirma nova carta dos indígenas.
"[Os operários] deram
dezenas de depoimentos sobre problemas que vivem aqui. São solidários a nossa
causa. Eles nos entendem. Tanto eles quanto nós estamos em paz. Tanto eles
quanto nós queremos que os trabalhadores sejam levados para a cidade. O
Consórcio Construtor Belo Monte precisa viabilizar a retirada dos trabalhadores
a curto prazo e garantir abrigo para eles na cidade", afirma o documento.
Mais tarde, policiais
acompanharam o assessor da Secretaria de Articulação Social da Secretaria Geral
da Presidência da República, Avelino Ganzer, até o canteiro ocupado. Ganzer
apresentou aos indígenas a proposta de que uma comissão definida por eles se
reunisse em Altamira (PA), na próxima segunda-feira, 6, com um grupo
interministerial. Os indígenas recusaram e exigiram a presença do grupo no
canteiro de obras ocupado, de modo que todos possam participar da conversa.
“Se querem conversar, terão
de vir até aqui. Não iremos para Altamira. Já fomos muito atrás do governo e
agora queremos que eles venham até nós”, declarou Valdenir Munduruku. Nesse
contexto, os indígenas lançaram uma nova carta exigindo, entre outros pontos,
que a empresa retire os trabalhadores dos alojamentos – no canteiro, 5 mil
trabalhadores dormem no próprio sítio de obras da usina.
Carta
"Nós estamos aqui para
dialogar com o governo. Não temos uma lista de pedidos ou reivindicações
específicas para vocês", afirma a nova carta, referindo-se ao Consórcio
Construtor Belo Monte (CCBM) e Norte Energia, concessionária da obra.
No documento, os indígenas
reafirmaram que estão ocupando o canteiro de obras exigindo a consulta prévia,
com base da Convenção 169 da OIT, a suspensão das obras e licenciamentos em
curso e o fim de operações policiais em terras indígenas.
Leia o documento dos
indígenas na íntegra:
Carta da ocupação nº 2:
Sobre a pauta da nossa ocupação de Belo Monte
Não estamos aqui para
negociar com o Consórcio Construtor Belo Monte. Não estamos aqui para negociar
com a empresa concessionária Norte Energia. Não temos uma lista de pedidos ou
reivindicações específicas para vocês.
Nós estamos aqui para
dialogar com o governo. Para protestar contra a construção de grandes projetos
que impactam definitivamente nossas vidas. Para exigir que seja regulamentada a
lei que vai garantir e realizar a consulta prévia - ou seja, antes de estudos e
construções! Por fim, e mais importante, ocupamos o canteiro para exigir que
seja realizada a consulta prévia sobre a construção de empreendimentos em
nossas terras, rios e florestas.
E para isso o governo
precisa parar tudo o que está fazendo. Precisa suspender as obras e estudos das
barragens. Precisa tirar as tropas e cancelar as operações policiais em nossas
terras.
O canteiro de obras Belo
Monte está ocupado e paralisado. Os trabalhadores que vivem nos alojamentos nos
apóiam e deram dezenas de depoimentos sobre problemas que vivem aqui. São
solidários a nossa causa. Eles nos entendem. Tanto eles quanto nós estamos em
paz. Tanto eles quanto nós queremos que os trabalhadores sejam levados para a
cidade. O Consórcio Construtor Belo Monte precisa viabilizar a retirada dos
trabalhadores a curto prazo e garantir abrigo para eles na cidade.
Nós não sairemos enquanto o
governo não atender nossa reivindicação.
Canteiro Belo Monte, Vitória
do Xingu, 3 de maio de 2013
Assinam
os indígenas caciques e lideranças, ribeirinhos e pescadores da ocupação pela
consulta
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